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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

DESAFIOS DA FÉ CRISTÃ



Sem dúvida, vivemos tempos conturbados. A falência dos padrões do passado e a ineficácia das soluções tradicionais, ocasionadas pelas rápidas e sucessivas transformações sócio-culturais, fazem-nos sentir pouco à vontade na sociedade em que vivemos. Para agravar a situação, deparamo-nos, dia após dia, com múltiplas e desconcertantes leituras da realidade, que nos dão a impressão de que somos estranhos em nossa própria terra. A crise é geral e atinge variados setores, como a família, a escola, a cultura, a política e a economia. Este contexto problemático atinge fortemente também o cristão.

De fato, esta sociedade, que podemos caracterizar como pluralista e secularizada, não mais proporciona ao cristão o respaldo social que ele usufruía no passado, quando os valores cristãos e a voz da Igreja eram acolhidos e respeitados, tendo as verdades da fé como referências básicas na vida dos cidadãos. Em nossos dias, a cultura venera a subjetividade, cultua a liberdade e absolutiza o direito individual. Cada um escreve sua autobiografia como melhor lhe parece. Nada mais é aceito somente porque vem transmitido do passado.

Ao reinado do indivíduo acrescenta-se a enorme quantidade de saber, inabordável por uma única pessoa. Com isso, temos acesso apenas a fragmentos da realidade, desconfiamos do que sabemos e do que acreditamos, tornamo-nos pragmáticos e nos consolamos através do consumo de objetos e sensações. A instabilidade cultural leva muitos de nossos contemporâneos a buscar saídas para o previsível mal-estar. Alguns cedem à tentação fundamentalista, entregando sua liberdade a gurus em busca das ansiadas certezas. Outros procuram refúgio em sentimentos intensos, aliando-se a alguma das modalidades dos movimentos pentecostais. Outros, enfim, caminham na direção de crenças orientais, onde julgam encontrar luz e sentido.

O traço marcante, nestas tentativas, é a perspectiva de auto-ajuda que as domina. De fato, elas estão centradas no próprio indivíduo, que as utiliza para seu próprio conforto espiritual ou sua paz interior. Esta situação é agravada por um traço cultural dominante nos dias atuais: todos querem ser felizes já, todos buscam a auto-realização plena nesta vida, deixando para o segundo plano a vida eterna. Deste modo, silenciam a verdade cristã de que o Reino de Deus só se realizará plenamente para além da história, numa vida inserida em Deus.
Como vemos, o cenário atual constitui um sério desafio para o cristão. Todos nos sentimos um pouco sozinhos, constituindo uma minoria. Uma desvantagem? Teria sido melhor ter nascido em séculos anteriores? Não creio. Pois percebemos claramente que a fé é uma opção pessoal, uma aventura que corremos. É escolher construir a própria vida pelo modelo da existência de Jesus de Nazaré e é também um risco, que exige muita confiança em Deus, fundamento da nossa fé, consistência da nossa esperança. Mas não era assim no Antigo Testamento? A fé de Abraão, partindo para o desconhecido por confiar em Deus? A fé dos pobres e dos pequenos? A de Maria, acolhendo a interpelação de Deus, sem saber o que o futuro lhe reservaria?

Hoje, temos a oportunidade de viver a fé de modo mais autêntico do que as pessoas de alguns séculos atrás, que se amparavam em uma sociedade natural e culturalmente cristã. Uma sociedade pouco exigente de liberdade. Poucos acreditam, a não ser no que lhes convém acreditar. Para nós, cristãos, é a pessoa de Jesus Cristo, sua história, suas palavras e ações, que fundamentam nossa fé. O modo como Jesus viveu sua existência permanece fascinante e atraente através dos séculos. Ao confessá-lo como Filho de Deus e Salvador da humanidade, ao procurar concretizar, embora imperfeitamente, sua existência histórica na minha vida, experimento que minha opção é a certa, confirmando minha caminhada à medida em que a vivo, fornecendo luz e certeza à minha opção.

Numa época em que se acentua tanto a subjetividade e a liberdade, é importante que percebamos ser a fé cristã uma modalidade de realização da própria liberdade. Não a investimos em bens materiais, em satisfações pessoais, em busca de poder e de prestígio, em compromissos passageiros e superficiais. Investimos nossa liberdade em Jesus Cristo, em seus valores, em suas vivências, em seus ideais. Não temos uma atitude egocêntrica diante da vida, que nos empobreceria humanamente e nos condenaria à solidão.

Procuramos ter, como Jesus, o centro de nossa vida fora de nós, levando a sério o outro, sensibilizando-nos com seu sofrimento, sua indigência, sua carência. Viver para o outro certamente resume bem o ideal cristão. Parece uma perda, mas é um enorme ganho, como confirmam os que entram seriamente nesta aventura. Ser conscientemente cristão, em nossos dias, significa, sem dúvida, remar contra a corrente e se perceber como minoria na sociedade. Conseguimos realizar esta proeza porque a força de Deus, o Espírito Santo, anima-nos interiormente. Somos diferentes porque somos sal da terra e luz do mundo. 

Somos diferentes porque testemunhamos o Cristo vivo entre nossos contemporâneos.
( Autor Desconhecido)

 Meu Maior Medo


Meu maior medo é começar a escrever alguma coisa sem ter a certeza de conseguir terminá-la;


Meu maior medo é viver sozinho e não ter ninguém com quem desabafar;

Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar a compaixão dos outros;

Meu maior medo é ajudar as pessoas e depois ser achincalhado por elas;

Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda;

Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho;

Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ter trabalhado a semana inteira;

Meu maior medo é não conseguir acabar com uma cerveja sozinho;

Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim;  

Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo;

Meu maior medo é escrever o que eu penso, mas que não posso falar;

Meu maior medo é ficar velho só esperando a morte chegar;

Meu maior medo é pensar no que existiria se não existisse nada disso ao nosso redor...

Meu maior medo se transforma em fé, quando penso que Deus não deu o Seu único Filho na cruz em vão, e que a verdadeira vida começa quando esta termina...


terça-feira, 2 de agosto de 2011

TEMPOS DE INFÂNCIA




Quando era menino vivia na rua.
Que beleza! (imagino)
Brincava de pega-ladrão.
Brincava de roda  e jogo de botão.

Brincava de casinha,
seu mestre mandou
e pulava a amarelinha.

No barranco, surgiam estradinhas de carro,
que com as mãos eu fazia...
E me sujava de lama, de barro.

No campinho, a pelada pra briga mudava 
(e como apanhava!)
Minha mãe, na sacada, reprovando-me, olhava.
E pela mancada uma esfrega eu tomava...

E brincava...
Chicotim queimado é queimadim...
Como era boa a brincadeira,
a de pique-bandeira.

No trevo da rua,
bolinhas de gude na meia-lua.

Na praça da matriz,
descia no tobogã e ralava o nariz.

No início da ponte,
O papo  rolava...causos e piadas aos 
montes.

No fim do mato, esconde- esconde
e no barranco eu chiava.   
     
Antes de ser moço,
Joguei  muita finca e caí muito no poço...

Quando cresci
Plantei uma árvore e filhos colhi.

Passei a jogar bola
E dos brinquedos esqueci

Voltei a cantar
(sem viola)   
Pois um dia a perdi.

A inspiração retornou
E esse poema escrevi.

(Afonso Alves Ferreira)
“ Um tempo distante. Um tempo diferente.”

Depois de tanto tempo, o trem voltou a circular. E olhando pela janela as paisagens que rapidamente vão ficando para trás, é impossível não fazer nesse momento uma retrospectiva dos fatos acontecidos há muitos anos, que parecem tão longe de nós, no tempo! No entanto, não é apenas porque aconteceram há tanto tempo que parecem longe de nós. Esse tempo parece distante porque é um tempo muito diferente do nosso.
E lá vai o trem ...




No princípio e meados do século passado  a nossa terra se diferenciava muito do que é hoje: não possuíamos tantas indústrias nem prédios; o meio de transporte era o trem e ninguém rodava em automóvel; quase se desconheciam estradas de rodagem, porque havia carência de rodas. Nos sítios percorridos atualmente por automóveis deslocava-se o carro de boi, pesado e vagaroso, a charrete ou a carroça; o bar do Bio, que hoje é Búfalo Bill; 



o rádio não anunciava o encontro do MEC( Monlevade Esporte Clube) com o Valério, porque ainda nos faltavam o rádio, o MEC ( que também já não exite mais )e o Valério; existia o morro do Géo e o morro do cassino, que se tornou o morro do Rampa’s, sendo hoje apenas  um morro. Havia duas pontes de madeira que se transformaram em uma ponte de concreto armado e uma ponte pênsil; o lactário fabricava o mingau para as crianças, hoje compra-se o leite na padaria...
Como era diferente aquele tempo!


Os limites dos terreiros das casas não eram impostos por muros altos, e sim, pelo respeito à propriedade alheia. As crianças e adolescentes estudavam e engraxavam sapatos, capinavam lotes, levavam marmitas à Belgo, enceravam as casas das “madames", vendiam doces e salgados pelas ruas, enfim, elas trabalhavam para ajudar no sustento da família... hoje, elas são proibidas de trabalhar, mas também não querem estudar.




A vida era tão diferente!

Para nós já é difícil imaginar céu sem avião, casa  sem televisão. Imaginem  o que era não ter energia, aquela limonada geladinha para se refrescar no verão...Os homens daquele tempo, e as mulheres, destinadas a serem apenas a rainha do lar, namoravam como os jovens de todos os tempos...só que de acordo com as normas da época... e, muitas vezes, as praças eram o ponto romântico para o encontro; hoje ... não se fazem mais “praças” como antes...

Esse tempo tão longínquo e tão diferente do nosso parece ficar mais perto quando abrimos um livro de memórias ou quando nossos avós contam as histórias que ouviram de seus pais ou de seus antepassados.

Mesmo distante e diferente,  esse tempo está de alguma maneira presente em nosso tempo, como as vidas de nossos avós, e dos avós de nossos avós, estão de alguma forma presentes em nossas vidas.

Não podemos mudar o que aconteceu há tantos anos.  Mas, podemos conhecer esse tempo, tempo de trabalho, tempo de construção...




De uma coisa temos certeza: conhecer um tempo distante e diferente é sempre uma aventura fascinante, e pode ser também uma das formas de descobrir como construir, com as nossas vidas, um tempo melhor, um tempo diferente.

E ... lá vem o trem, correndo pelos trilhos da Monlevade de hoje, levando essa personagem de dois rostos chamada MONLEVADE. Talvez, seja possível ainda ouvir a voz de alguns meninos a gritar:  - Boiiieeeiro!

Talvez, não fossem necessárias tantas explicações... Os poetas conhecem a magia de dizer com poucas palavras porque sabem o segredo de fazer compreender com o coração. Por isso peço por empréstimo um verso de Cecília Meireles, poetisa nascida nesses tempos distantes e diferentes:




“ As coisas acontecidas mesmo longe,

ficam perto para sempre e em muitas vidas...”


Afonso Alves Ferreira

quarta-feira, 27 de julho de 2011


O velho cão da boemia a um dia de se casar

Blog do Cano



A princípio, Walter teve de se desfazer das bermudas tactel e dos pares de sapatênis. Deixou de lado as camisas estampadas e o brinquinho de argola. Abadás de micaretas passadas não veria mais. O infalível gel fixador deu lugar ao creme para pentear. Isso, no decorrer de, apenas, o primeiro ano de namoro.


Já há algum tempo, ele vinha se preparando para a iminente transfomacão. Teria de jogar para escanteio o compromisso de acompanhar as séries A, B e C do Brasileirão diariamente pela TV. Desde o mês anterior, passara a abrir mão dos campeonatos turco e português. Será preciso se adaptar a dividir o lar, seu tempo e atenções com a esposa. Eventualmente vai assistir à melosa novela das nove com a amada.

A vida é mesmo assim, feita de fases. E é bom ir se acostumando com a ideia de compartilhar com a mulher a direção de seu tão estimado Toyota Corolla. Até então, o leme do possante jamais fora manejado por outrem. Com sua dama, aprendeu a ajeitar a cama e tampar a pasta de dente. Foi pela primeira vez a um restaurante japonês e à cidade histórica de Tiradentes. Das malandras viagens só com amigos, já se acostumara a estar ausente. Logo ele, o líder nato da moçada. O velho cão da boemia está a um dia se casar. Quanto à mais significativa das mudanças, no entanto, seu coração quer relutar. Essa sim, irreversível, mas ele sabe que tem de assimilar. Diz respeito àquilo que o faz se sentir homem. Instinto voraz, algo maior do que ele. A bem da verdade, é muito comum entre os machos manter tal hábito, mesmo depois de casados, enquanto tiverem energia. "Mas não sou como os outros" - insiste o noivo em tentar convencer a si próprio. Na véspera de seu adeus à vida de solteiro, ele decide que faz jus a uma recaída. "Voltarei lá, mas será a última vez" - estabelece. Logo na entrada, reencontra alguns de seus cúmplices. Gente boa, mas sem futuro. Não dizem nada que presta, estão ali à caça de prazer e diversão. Walter se emociona ao imaginar que nunca mais pisará o recinto onde tanto se saciou. Sente uma ponta de inveja quando avista um companheiro, completamente suado e satisfeito, relaxando ao sabor de uma cerveja gelada. Tentando não pensar em mais nada, lá está Walter, enfim, pela derradeira vez, fazendo aquilo de que mais gosta: vestindo a camisa número 6 do time dos solteiros, na pelada de sexta-feira da firma. Titular absoluto da lateral esquerda durante nove anos, ele deixou escorrer uma lágrima assim que ouviu o apito inicial. O time dos casados joga com dois volantes e três homens de armação. Não há lugar para um ala de contenção. Por isso ele decidira, com imenso pesar, pendurar as chuteiras ao fim da peleja. É difícil aceitar, mas a vida é assim, feita de fases.


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Eu e o Mar
Fiquei um dia a pensar,
Entre tantas outras coisas,
Como será a minha primeira visita ao Mar.
Visita ao mar?
Quando será?
Eu me imaginei correndo entre as águas,
O vento a soprar-me o peito,
Mil biquínis em meu redor dançando
E eu deitado naquele imenso leito,
De sal, de verde, sonhando.
Talvez não seja assim,
Talvez seja tudo fantasia.
Mas juro que gostaria
de conhecer o mar algum dia.
                                                                                                                   (Afonso Alves Ferreira)

sábado, 23 de julho de 2011

Sinto-me à vontade, não tanto quanto Raul Pompéia em sua obra “O Ateneu”, para falar um pouco da vida passada no Colégio Estadual, apesar de não haver tanta semelhança entre os dois. Mas, a saudade muitas vezes traz à tona lições de vida nunca esquecidas e a lembrança do trabalho sério e incansável daqueles “mestres” que se não nos ensinaram para aquele tempo, com certeza serviram de bússola para nós nos dias de hoje: Seu Chaves, Seu Nilson, Seu Hérbio, Gabriel, Taninha, Bequinha, Izaías, Celeste, Dona Nini, Dadinho, Dona Lucília, Seu Geraldo Arantes, Júlia Leocádia, Dona Neguinha, “Chico Preto” e outros mais, que a memória não me permite lembrar.

Com certeza, o clímax na escola nunca começa no início da aula, sim na hora do recreio e no Estadual não poderia ser diferente. Seu Durães, o disciplinário, de pé, com os braços cruzados, permanecia inerte. Apenas os olhos vigilantes que quase saindo de órbita, ora rodopiavam, ora ficavam de soslaio. E a meninada descia as escadarias do Estadual às correrias para o “rango”. Ao chegar ao pátio começavam as brincadeiras de roda, os piques e porque não, as brigas (como sempre), os namoricos e a famigerada fila; o que até hoje não acabou nas escolas. Aliás, vamos pegar fila até o fim de nossas vidas, porque a modernidade ainda não inventou outra forma de organização... e continua sendo o primeiro da fila aquele que chega primeiro.

O Gérson, filho de Seu Caldeira, prestava-se a adivinhar qual ônibus acabara de subir o morro da praça do cinema, que ao ouvir o barulho do motor dizia: “Este é o número 5 da Vila Tanque”. E era “batata”! Acertara mais uma vez, e no meio destas contava aquelas piadinhas picantes e/ ou pesadas que só ele mesmo sabia contar com tanta competência.

Bate o sinal. Termina o recreio. Voltamos à sala de aula. O professor faltou (hoje é mais comum...) e a turma quebrou o pau... Quase jogou a sala no chão... De repente, eis que chega Seu Geraldo Arantes, professor de Educação Física, que quase nos matava de tantos exercícios físicos; bola mesmo, “necas”... Os tempos mudam... E por causa da bagunça, nós, da sala 23, tivemos que copiar dez vezes o Hino Nacional Brasileiro. Bendita cópia! Só assim aprendi a cantar o nosso hino de cor.

Em seguida, veio a aula de ciências com “Chico Preto”, com argüição e tudo o mais, inclusive, acredito eu, que tenha sido ele o inventor de “empréstimo de pontos”, para que não ficássemos com nota vermelha. Por incrível que pareça, nesse dia, gozador como ele só, pegou o Chiquinho da Telemig, dançando tango com uma vassoura que acabara de pegar atrás da porta da sala, e não é que o danado do Chico Preto colocou Chiquinho para dançar (e cantar) com a vassoura na frente de todos...!?

Bate o sinal novamente. Este até hoje é o sinal mais esperado pelos alunos. Acabou a aula e a coisa sobrou para mim. O “Boneca”, aquele cabeludo e magricela da “Cidade Alta”,  resolvera  juntar os outros colegas para tirar o meu sapato, uma vez que eu o havia importunado com alguma brincadeira que o mesmo não teria gostado . E lá se foi o meu Vulcabrás pelos corredores da escola, de pé em pé, no meio daquela turba alvoroçada para chegar em casa, até chegar aos primeiros degraus da escada; e eu gritava: “na escada, não! Seu Durães vai pegar...” E eles, nada... Continuaram chutando o pé esquerdo do meu sapato e eu correndo como um saci para não sujar a minha meia branca. Que catástrofe! O sapato foi parar aos pés do professor Vicente Soares, diretor da escola, e dali  direto para sua mesa, à minha espera, quando então recebi mais uma lição: “Se você quer ser respeitado, dê respeito.”              
                                                                                                                                                
Então os anos se passaram. A turma terminou seus estudos e cada um seguiu o seu caminho. O Colégio Estadual continuava de pé, abrindo suas portas para receber outros alunos, até que um dia, o sinal emudeceu, os corredores e as escadarias ficaram desertas, desaparecendo assim o Estadual e junto com ele o Cine Monlevade, a Rádio Cultura, o Bar Para Todos, o Ideal Clube, o “Naite Clube” (União Operário), a Praça do Mercado, o Grêmio, enfim, a vida do centro de Monlevade esvaiu-se. Tudo volta para o seu legítimo dono: A Belgo Mineira. E ninguém fez nada para impedir. Nem eu...

Esta foi a terceira lição...
                                                                                                                                   Afonso Alves Ferreira


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Leão de Chácara: Tempo de Infância

Leão de Chácara: Tempo de Infância: "Quando era menino vivia na rua. Que beleza! (imagino) Brincava de pega-ladrão Brincava de roda e jogo de botão. No barranco, surgiam estra..."

quinta-feira, 21 de julho de 2011


DE VOLTA AO PASSADO



“- Atenção passageiros da linha 151 com destino ao bairro Santa Cruz, preparem-se que o ônibus já está chegando...”- dizia o moleque em tom de gozação àquelas pessoas, que depois de um dia cansativo de trabalho esperavam impaciente o lotação. Lá estava eu, depois de tanto tempo, não para ir para a minha casa, pois já havia mudado para Carneirinhos; e sim, para matar saudade daquele lugar que, antigamente, era conhecido como centro de Monlevade, e hoje, como centro Industrial. Mas, exatamente eu estava indo para a rua Tapajós, onde nasci e vivi os primeiros 21 anos de minha vida.
        Depois de me acomodar numa cadeira ao lado da janela, meu pensamento voou longe, desenhando em minha mente mil imagens remanescentes do passado: as estradinhas feitas no barranco; as peladinhas no campinho, incluindo as brigas com Dimas Bodão e os tapas-canoa que me davam por não saber jogar na linha, acompanhado de uma severa ordem para que eu fosse pegar no gol; as brincadeiras de “soldado-ladrão”  na gameleira e pique-bandeira; o jogo de finca e bolinhas de gude no triângulo – um trevo onde não havia praça; o tobogã que constantemente se instalava na praça da igreja, onde eu brincava em troca de trabalho; os preparativos e os festejos da Semana Santa na Gruta da Igreja, incluindo barraquinhas, calvário, queima do Judas e as procissões que iniciavam na Igreja São José Operário, atravessavam  a ponte de madeira da minha rua, indo para a rua Tocantins, Beira Rio e depois retornavam pela outra ponte de madeira, perto da rodoviária; as idas ao campo de futebol do Jacuí e o retorno pela linha de trem até chegar na Estação; as aulas e as traquinagens no Santana e no Estadual;  


o bar Café Rex, que ficava localizado às margens do rio Piracicaba; o bar do seu Daniel e de seu Simões; as pescarias no Piracicaba, onde hoje só serve para dar banho em minhocas; as matinês no Cine Monlevade; os programas de auditório da Rádio Cultura, onde cantei em público pela primeira vez; os bailes carnavalescos do Ideal Clube e os carnavais de rua; os desfiles de 7 de setembro com parada militar e tudo; a assistência médica, onde a Dra. Déa me atendia carinhosamente; o Grêmio, onde eu só entrava às escondidas, principalmente, quando havia festivais de música, como o inesquecível Festiaço; a praça do mercado com o armazém e os burros do Geo, mercearia Bandeirantes, Casa Jaime e Maluf, a loja do "Zé Gordo" e do Nova Lima, Sô Juquinha, O Empório Monlevade, a farmácia do Juventino Caldeira e, principalmente a feira em frente à delegacia de polícia, onde a figura folclórica do Seu Enéas fazia-se sempre presente, tocando aquela flauta cunhada num pedaço de bambu como que se quisesse atrair os fregueses para a feira; os recreios noturnos no “Bar Para Todos”; etc., enfim, as lembranças de um povo sofrido, simples e trabalhador que ajudou a fazer da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira o que hoje ela é: a Arcelor Mital. E olhando aquelas pessoas que estavam retornando para suas casas, lembrava-me do percurso que eu também fazia quando lá morava... 
Então, desperta-me das lembranças o barulho do trem por cima do viaduto, avisando-me que eu estava chegando ao meu destino ou quem sabe, como se quisesse despertar-me das lembranças do passado...  mas o efeito foi contrário: Antigamente não havia aquele viaduto e, sim, uma guarita, onde atravessava para buscar leite e mingau no “Lactário”, para ir às praças do mercado e do cinema...  e  não vi o outro viaduto, aquele que representava o arco do triunfo, a passagem para o berço da história cultural, comercial e industrial de nossa cidade; hoje transformado em uma grande muralha, fechando assim, a porta do passado, guardando as minhas relíquias e de toda a juventude daqueles áureos tempos, que se transformaram em histórias sem imagens para os meus filhos...



        Ao descer o morro do “Rampa´s”, notei que os prédios do Cassino e  Hotel Siderúrgica já não eram como antes...  mais pareciam essas casas mal-assombradas de filmes de terror, com teias de aranhas e poeira para todo lado. A minha memória leva-me à frente deste hotel, onde eu ficava engraxando os sapatos dos hóspedes e cantando: “ Olha o lustro carioca que não mancha e nem reboca...”. Em seguida, lá estava o Hotel Monlevade, que depois de muito tempo fechado, só serviu para abrigar o Sindicato, posto de saúde, barbearia, etc. ...
        Desci no ponto da Igreja e a primeira visão me fez delirar: a matriz São José Operário, com meio século de vida... e penso que pelo menos alguma coisa não havia mudado de 30 anos para cá...  E a segunda  estarreceu-me, pois sob o céu acinzentado lá estava o dragão a soltar fogo e fumaça pelas ventas, que se agigantou em nome do progresso e ao mesmo tempo, em nome desse mesmo progresso, reduziu a necessidade de mão de obra. Então começo a experimentar aquele sentimento, aquela sensação de perda, de uma vazio tão grande, o que foi acrescentado pela lembrança da casa dos Ferreira: a minha casa. Lembrei-me da luta travada de meu pai para transformar aquela casa de três quartos em sete para abrigar a família de 15 filhos, que já não eram mais crianças em 69... Mas que depois, com a sua mudança para a morada do pai celestial, nossa casa serviu apenas para guardar as boas recordações que já haviam perdido o seu valor sem a presença de seu construtor...  É difícil saber se vale a pena construir uma casa para mais tarde ser povoada por fantasmas...
        Enfim, comecei a rever a vizinhança: D. Sinhá de Sô Dário, Seu Oswaldo de D. Maria, Seu Benedito, D. Lilita de Seu João Carneiro, D. Geni de João Tôrres, D. Quinita, Dona Edite, "Bengala", Dona Lilia de Seu Etelvino, Seu Pedrinho, D. Maria de Seu Adão, D. Mariinha, Seu "Zé Pinheiro", Seu Antônio de “Donieta”, Dona Geni de seu Mulatinho, Dona Sussuca, Seu Baldêz, Seu Geraldo Biscoitinho e outros mais. Não sei dizer se estavam todos bem, pois muitos destes já se foram para a eternidade; outros mudaram para outros lugares e por receio de descobrir que poucos permaneciam morando lá, não bati na porta de ninguém. Preferi guardar na lembrança a imagem de todos do jeito que eram, pois vivíamos todos como se fôssemos uma só  família, quando até mesmo não se construía muros para separar uma casa da outra e vizinho era o parente mais próximo...
        Então peguei o ônibus e retornei a Carneirinhos com a certeza de que esta minha viagem ao passado me havia feito valorizar mais o presente, pois no futuro o presente poderá ser um passado tão inesquecível quanto este que acabo de remontar.
(Afonso Alves Ferreira)